"A Lição" encerrou temporada neste sábado
Peça com Ricardo Guilherme é um show de expressionismo
A peça "A Lição", do dramaturgo romeno Eugène Ionesco, foi escrita no começo do século XX e ganhou adaptação inovadora do ator e produtor cearense Ricardo Guilherme. Este espetáculo, do Teatro do Absurdo, aponta a relação de um professor e sua aluna confusa em busca de um conhecimento mais específico sobre o mundo. Uma aluna alheia à sociedade em que atua, vindo do interior, sonha em conseguir o seu "doutorado total". Um professor rígido, dedicado e impaciente, tão paradoxal quanto é a arte de ensinar.
Logo no início observamos uma metáfora quando o professor caminha - sempre sobre os livros que formavam inúmeros caminhos imagináveis no chão. A cenografia consistia em um bloco de livros centralizado no palco, sob uma retroprojeção do roteiro da peça ao fundo, formando duas sombras bem definidas dos atores sobre a parede branca.
A cada "lição", uma folha apresentada pelo professor e recebida pela aluna, propositalmente, projetava palavras que mereciam destaque no texto da página do roteiro exibido no cenário.
O áudio também ganhou destaque dentro dos criativos recursos cenográficos do espetáculo, quando sons estrondeantes com a voz do professor lendo simultaneamente pontos diferentes do texto e usando diversas entonações diferentes, criou um sentimento de desespero, como quando ouvimos por horas uma aula que não temos interesse em assistir ou quando queremos lembrar a resposta de uma questão específica em uma prova e terminamos por ouvir diversas vozes do professor citando trechos das matérias repassadas em sala de aula, mas de uma forma inaudível e fragmentada.
A aluna, muito misteriosa, chega cedo demais na aula e não sabe responder de qual país pertence à cidade de Paris quando se apresenta ao professor. Em seguida ela é submetida a um teste oral proposto por ele, com uma bateria de perguntas sobre aritmética. A aluna responde corretamente aos enunciados de adição, mas responde incorretamente a todas as questões de subtração simples como o resultado de três menos um, demonstrando uma dificuldade persistente em retirar "uma unidade de um conjunto". A aluna se demonstra irredutível aos exemplos do professor.
A peça ironiza de certa forma como a aprendizagem é compreendida por muitos professores, quando o protagonista, interpretado por Ricardo Guilherme, começa a dar exemplos de frases iguais em várias línguas, sem se importar com o real conteúdo delas. O autor da peça também teve a sensibilidade de apontar a categoria docente que se preocupa com seu "Doutorado total" ou "pós-pós-PHD", sem se preocupar se a aluna estava aprendendo de forma efetiva. A falta de sensibilidade de uma "lição" arcaica faz o professor se negar a dar atenção até para o estado físico da aluna, dispondo-a de conteúdos extensos e quase que inacabáveis enquanto a mesma se contorcia com dor de dente.
A peça "A Lição" tem 1h30min de duração aproximadamente, não utiliza de cenas dinâmicas por haver muitos diálogos fixos e repetições desnecessárias. A encenação de ambos nos envolve muitas vezes em situações cômicas.
A peça finaliza com uma metáfora de que uma caneta seria um punhal, nos rebuscando a uma interpretação de que a educação pode ser usada para diversos males. No final o Professor instiga o público informando que a Lição acabou e ordena que todos se retirem. Os atores Ricardo Guilherme e Maria Vitória, que tiveram excelente atuação, prendendo a atenção dos espectadores durante todo o espetáculo, homenagearam alguns presentes na plateia no fim da sessão: atores pioneiros do teatro cearense, que iniciavam um novo Festival de Teatro da Terceira idade em Fortaleza.
"A Lição" teve sua última apresentação neste último sábado, dia 30/11, no Teatro SESC Iracema, mas essa montagem deverá continuar com novas temporadas em 2014.
Por: Carlos Augusto Rocha
Fonte:
"JORNAL MEGA EXTRAORDINÁRIO"
CADERNO DE ARTE E CULTURA: "MEGACULT"
Jornalismo FIC 2013.2 - Noite
Impresso:
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